«Precisamos de repensar a forma como produzimos e consumimos»
Por ocasião do 9º Fórum para o Futuro da Agricultura (FFA), que reuniu 1500 pessoas em Bruxelas, a 22 de Março, entrevistámos, Janez Potocnik, presidente do FFA 2016 e presidente da Fundação RISE, entidade independente que apoia a economia rural na Europa.
A 9ª edição do Fórum para o Futuro da Agricultura tem como mote “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável- É hora de mudar o rumo”. Porquê?
É importante perceber o contexto em que vivemos, estamos mais ligados do que nunca, mais interdependentes do que nunca e a população mundial atinge níveis sem precedentes. Os desafios globais que enfrentamos – alterações climáticas, perda da biodiversidade, alimentar a crescente população mundial – requerem maior envolvimento e mais coresponsabilidade, tanto a nível individual como coletivo. Precisamos de repensar os nossos valores e de alterar o modelo económico que está na base da Sociedade atual, a forma como produzimos e consumimos. O que está hoje em debate no FFA vai além das mudanças no setor agrícola e na Europa, prende-se com a necessidade de reformar o atual modelo económico global. Razão pela qual dedicámos a 9º edição do FFA aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030) da ONU, reunindo em Bruxelas os mais altos dirigentes e estrategas da ONU e da FAO.
É viável adotar um único modelo reformador a um mundo a duas velocidades?
Não há uma solução única para responder aos desafios globais. Enquanto uma parte do mundo se debate com a subnutrição, a outra lida com o problema da obesidade. São ambos graves problemas de saúde, a diferentes escalas, precisamos, por isso, de encontrar respostas locais aos desafios globais.
Qual o papel da Inovação nas reformas necessárias para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?
Repensar o modelo de crescimento está intimamente ligado com o papel da Inovação. Creio que tal como no passado, também no futuro a Inovação será uma parte fundamental para encontrar soluções. Precisamos de inovar tecnologicamente, mas também na forma como nos organizamos para responder aos desafios. É muito importante que a Inovação faça parte da solução para o modelo de sustentabilidade que desejamos implementar a nível global. Precisamos de soluções duradouras que nos conduzam à resolução dos problemas.
Concorda que o atual modelo de decisão política da UE, no que respeita à aprovação de novas tecnologias para a agricultura, pode levar a Europa a perder o “comboio” da Inovação?
Não conheço em detalhe essa questão, mas creio que cada um de nós deve desempenhar o seu papel e a Europa está sofrer um processo de transformação que não é fácil. De qualquer modo, temos de nos focar em temas relevantes como a questão do azoto – saber que quantidade de nitratos e fosfatos está a ser desperdiçada e usada de forma errada na agricultura -; o consumo diário de carne ou ainda o desperdício alimentar – 1/3 de todos os alimentos produzidos no mundo acaba no lixo -, que implica também desperdício de recursos naturais, como a água, o solo ou os fertilizantes.
Que resultados práticos espera desta 9º edição do FFA?
Quando assumi a presidência do FFA 2016 tentei reorientá-lo na direção do contrato global – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030) – que assumimos coletivamente na conferência da ONU, realizada em Setembro de 2015, em Nova Iorque. O FFA contribuiu para as decisões adotadas nessa reunião (previamente acordadas em Maio de 2015), e desde então temos vindo a refletir sobre como estes compromissos vão influenciar a nossa vida. Reunimos diferentes pontos de vista, e fomos além da perspetiva da Agricultura, porque são necessárias respostas multidisciplinares para resolver os problemas da Alimentação. O FFA é uma plataforma onde todos esses diferentes interesses e pontos de vista se reúnem para debater soluções, contribuindo para a reflexão necessária à tomada de decisões políticas. Nesta edição do FFA estão presentes importantes decisores políticos e esperamos contribuir para um debate profundo sobre os desafios globais.

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