A Agricultura de Conservação compensa

A Agricultura de Conservação compensa

Land and Soil Management Award, prémio europeu promovido pela Syngenta, European Land Owners Association (ELO) e que conta com o apoio da Comissão Europeia. Esta distinção é  atribuída a nível europeu ao projecto mais inovador no desenvolvimento da intensificação sustentável da agricultura.

Os dois parceiros conheceram-se em 1987 na Universidade de Évora onde Mário Carvalho era professor e Nuno Marques aluno . Nuno Marques tinha a terra – inóspita, infértil e pouco produtiva – e o desafio de a rentabilizar, Mário Carvalho os conhecimentos e o gosto pela agricultura de conservação.

Quando iniciaram os primeiros ensaios de sementeira directa de milho, girassol e sorgo, na Herdade da Parreira concelho de Montemor-o-Novo, os resultados foram positivos, no entanto, tiveram  dificuldades em semear grandes áreas uma vez que os semeadores disponíveis não eram capazes de trabalhar a terra em larga escala. Optaram pela mobilização mínima do solo, até que surgiu no mercado um semeador capaz de realizar a sementeira directa nos 70 hectares de regadio em monocultura de milho.

 

Os Primeiros frutos na agricultura de conservação

Em 2000 aplicaram o mesmo conceito de conservação do solo a uma área da exploração com cerca de 500 hectares, num total de 800 hectares e em 2002, após o aparecimento no mercado de semeadores de sementeira directa aptos a trabalhar com elevada quantidade de resíduos das culturas, converteram a exploração a 100% num sistema de agricultura de conservação.

O passo seguinte foi dado em 2010 com a reconversão da área de regadio de culturas de Primavera-Verão para culturas de Outono-Inverno (forragens em rotação com trigo). Uma decisão que viria a revelar-se a mais acertada para o aumento da rentabilidade da exploração e melhoria do equilíbrio do ecossistema.

 

Preservação do solo: Resultados no terreno

O sistema radicular das plantas desenvolveu canais que atravessam o solo, garantindo a drenagem indispensável para a conversão do regadio para culturas de Outono/Inverno. O sistema permitiu ainda aumentar a matéria orgânica e travar a erosão. Ao fim de seis anos, as análises de solo comprovam que o teor de matéria orgânica continua a subir, prevendo-se que estabilize nos 3%, e os níveis de fósforo e potássio são altos. “O sistema de rotação de forragens com cereais permitiu-nos melhorar a drenagem, pela forma como as plantas forrageiras – trevos e azevéns –  exploram o solo, e a produtividade tem aumentado todos os anos”, garante Nuno Marques.

 

Uma preservação do meio ambiente rentável

A poupança em factores de produção é notória – menos 30% nos gastos com fertilizantes; redução para metade das doses de produtos fitofarmacêuticos aplicados ao trigo “É expectável que se consiga continuar a aumentar a produção, porque agora o solo desempenha melhor as suas funções. Por outro lado, conseguimos reduzir a incorporação de adubos”, explica Mário Carvalho. No que diz respeito à água, a sua produtividade quadruplicou. “Com 70 hectares de milho, as barragens chegavam ao final do ano sem água, neste momento regamos 220 hectares e as barragens continuam com capacidade para enfrentar 2 anos de seca”, reconhece Nuno Marques, explicando que para produzir uma tonelada de matéria seca de forragem ou uma tonelada de grão de trigo, o consumo de água é muito inferior ao necessário para a mesma tonelada de matéria seca nas culturas de Primavera-Verão.

A produtividade aumentou. No caso do trigo registaram nos últimos 3 anos um acréscimo na ordem dos 500 kg por hectare/ ano, atingindo 6100kg/hectare na campanha passada, uma boa marca no contexto de solos pobres da região. Nuno Marques garante que este sistema de produção “é muito mais eficiente e liberta muito mais margem do que as culturas de Primavera-Verão, a margem bruta na cultura do trigo é de 700€/hectare”. Produzir 1 tonelada proteína com forragens custa cerca de metade em comparação com o bagaço de soja (o subproduto fonte de proteína referência na alimentação animal a nível internacional).

 

Além da Agricultura de conservação

A Agricultura de Conservação passa também por uma boa gestão do encabeçamento do efectivo pecuário, que na exploração da Portalimpex, onde Nuno Marques é responsável, é de 0,7 cabeças/hectare. “Embora a nossa exploração tenha disponibilidade para alimentar cerca de 1000 a 1200 animais, temos em média 700 cabeças para reprodução e engorda, das raças Limusine, Angus e Charolês. Não pretendemos aumentar o encabeçamento porque queremos preservar o montado e todos os solos da exploração”, explica Nuno Marques.

Tendo em conta as alterações climáticas, com períodos de seca cada vez mais frequentes e maior irregularidade dos fenómenos climáticos extremos, a agricultura de conservação tornou-se  um investimento decisivo“A importância do solo na produção agrícola aumenta à medida que o clima se torna menos favorável à produção de plantas. Se não formos capazes de actuar ao nível da melhoria da qualidade do solo (armazenamento de água e drenagem), as alterações climáticas terão um impacto tremendo na produtividade da terra. Melhorar o solo é a única solução e ao fim de 5 anos vêem-se os primeiros resultados”, garante Mário Carvalho.

Este projecto contribuiu para a intensificação sustentável da gestão dos solos agrícolas, assegurando a viabilidade económica da exploração e preservando o ambiente na região do Mediterrâneo, em linha com a Estratégia Temática de Protecção do Solo da União Europeia. De realçar também o seu importante efeito multiplicador na região Sul de Portugal, porque nos últimos anos esta exploração agrícola tem servido como centro de demonstração para agricultores e estudantes que a visitam e estudam”, afirma a organização do Land and Soil Management Award.

Nuno Marques e Mário Carvalho foram os primeiros portugueses a vencer o Land and Soil Management Award  com o trabalho intitulado Creating new land and soil management opportunities under Mediterranean soil and climatic limitations, que resulta de cerca de 30 anos de experiência em Agricultura de Conservação. À edição 2015/2016 concorreram 19 projectos de 14 países.

Share this post

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *